segunda-feira, 27 de julho de 2009

Não há como escapar de Suspiria...

SUSPIRIA

Conto de fadas assombroso, o primeiro de outra trilogia criada por Dario Argento acerca das Três Mães, criaturas diabólicas que controlam os suspiros, as trevas e as lágrimas, espalhadas por três casas ao redor do mundo. A história das Mães é tirada do livro Suspiria De Profundis, de Thomas De Quincey, escritor inglês ligadão em ópio e criador de delíros incontáveis, dignos de Argento continuar em A Mansão do Inferno de 1980 e finalizar com O Retorno da Maldição em 2007, tendo sua filha Asia Argento como protagonista.

A revolução artística em Suspiria é tremenda. Contempla-lo é perder-se num pesadelo metafísico e desconcertante. Uma obra de arte em cor, vitalidade e fúria.


A violência é operística, resultando num conjunto irrepreensível de sangue, estilo e som. Lembra Kubrick, que dividia seus filmes na experiência sonora e visual.

As cenas de crime são grandiosas, estilizadas e barrocas, transitando entre o horror e o insuportável. Por ser um gênero que permite liberdade e loucura, o terror encontra em Suspiria, a materialização exata visual e pavorosa das chaves essenciais do gênero. Argento vira um amplificador de velhas fórmulas góticas, provando que nenhum filme é um texto que exija linearidade, transformando Suspiria num teste de resistência, uma afronta ao olhar e aos ouvidos que permanece na memória de quem assiste.

Jessica Harper é a infeliz protagonista Suzy Bannion, escolhida pelo diretor por lembrar facialmente a Branca De Neve da Disney. A doce mocinha glorificada com a chance de estudar na melhor academia de dança do mundo, desconfia que algo maligno ocorra por trás das paredes da escola. A câmera, a iluminação e os gemidos, indicam a presença de uma maldade antiga que a tudo e todos observa e tenta controlar. Quando este mal não obtém sucesso, não hesita em eliminar aqueles que cruzam o seu caminho.

E á medida que a história passa e a pressão aumenta, o espectador tão nervoso quanto a protagonista, percebe que o castelo exuberante em cores e formas geométricas, é também um covil de feiticeiros seguidores de Helena Markus, a fodona Matter Suspirarum. Para escapar dos rituais satânicos conduzidos na escola, Suzy se encaminhará para um apocalíptico final, defendido no trailer da época como a única coisa mais assustadora que os noventa minutos iniciais do filme.

O filme seria um giallo tradicional com crimes e sustos, mas com o decorrer da história nota-se que o assassino (ou seriam assassinos?), não é humano, complicando ainda mais a maluquice geral.

Como emissárias do inferno, Argento não poderia encontrar melhor dupla de vilãs defendidas por Alida Valli como a hausfrau nazista virada em sorrisos diabólicos e a veterana musa de Fritz Lang, Joan Bennett, como a elegante diretora da escola e chefona da organização satânica. Udo Kier é o especialista em bruxaria que ajuda a mocinha. Stefania Casini, Barbara Magnolfi, Eva Axén e Susanna Javicoli são as outras alunas que desfilam em figurinos cafonas setentistas. Flavio Bucci é o horrendo Daniel e um jovem Miguel Bosé aparece como a paixãozinha de Suzy.

A trilha sonora do grupo Goblin, construída basicamente de uma nota repetida em vários arranjos, cria tensão á partir da palavra witch, gemidos e sibilos. Argento tocava a música no mais alto dos volumes para colocar o elenco no clima de terror no set.


Quero ver se a coisa vai funcionar tão bem assim num prometido remake para 2010.

domingo, 26 de julho de 2009

Vampirismo De Luxo

FOME DE VIVER

Primeiro filme de Tony Scott como diretor, vindo do mercado publicitário e dos videoclipes. Scott começou sua carreira aqui, graças á Alan Parker, o diretor escolhido pelos produtores para tocar o barco. Parker indicou Scott aos produtores por não se achar capacitado para conduzir a história e disse que Tony tinha um estilo muito bom.

Como o Barry Lyndon ou O Iluminado de Kubrick e até mesmo o Nosferatu de Herzog, esse filme está dividido em duas experiências: ele é visual ou sonoro.
Se você tirar o som e ficar de olhos nas imagens, ou apenas ouvir os sons, sairá ganhando.

É um orgasmo de autor, pesadelo publicitário oitentista, datado, cheio de fumacinhas e música eletrônica. Scott tem uma preocupação tremenda com os cenários, as cortinas e a iluminação. Nada está fora do lugar e cada detalhe tem um efeito tremendo.

Catherine Deneuve vestindo Yves Sain-Laurent, é a belíssima vampira remanescente do Egito antigo. De tempos em tempos ela seleciona um parceiro para amar com a falsa promessa da vida eterna. O roqueiro David Bowie, tão afetado quanto o filme, é o lover do momento que percebe tarde demais o quanto Deneuve é mentirosa, pois ele está envelhecendo, virando uma múmia ambulante num excelente trabalho de maquiagem de Dick Smith, o criador da cara abominável da Regan em O Exorcista.

Ou seja, vida eterna e juventude, eram conversa pra boi dormir. Deneuve é uma predadora e está morta de medo de ficar sozinha com todos aqueles caixões dos antigos parceiros no andar superior de sua mansão. Seu instinto de caçadora e o coração necessitado fazem com que ela saia em busca de uma nova companhia para sorver jugulares nas noitadas ao som de Ballhaus.

Susan Sarandon no auge da sensualidade, é a cientista meio sapata que se encanta com Deneuve e as duas trocarão as melhores carícias lésbicas já vistas no cinema, ao som de Dellibes, perdidas entre esvoaçantes lençóis e cortinas brancas, lambuzadas de leve, com um sangue meio aguadinho que insiste em escorrer cama abaixo.

Fala-se pouco, ninguém morde o pescoço de ninguém. A turma em cena está mais preocupada em perder a carinha bonita. Um padece perante a velhice, outro sofre de solidão, mas tudo com um requinte e uma frescura inebriante. É gente bonita fazendo alarde por causa da beleza. São todos sofredores bem vestidos, transbordam uma elegância sem tamanho que nem dá espaço para o terror. Até os sustos são finos demais.

Tenicamente impecável, o filme começa a incomodar na metade. Scott e seus roteiristas, adaptando o romance de Whitley Strieber, não souberam o que fazer com os personagens perdidos em tanta sofisticação, e de um jeitinho sem graça, toda essa festa é apenas para dizer que a vida eterna é um saco.