SUSPIRIA
Conto de fadas assombroso, o primeiro de outra trilogia criada por Dario Argento acerca das Três Mães, criaturas diabólicas que controlam os suspiros, as trevas e as lágrimas, espalhadas por três casas ao redor do mundo. A história das Mães é tirada do livro Suspiria De Profundis, de Thomas De Quincey, escritor inglês ligadão em ópio e criador de delíros incontáveis, dignos de Argento continuar em A Mansão do Inferno de 1980 e finalizar com O Retorno da Maldição em 2007, tendo sua filha Asia Argento como protagonista.
A revolução artística em Suspiria é tremenda. Contempla-lo é perder-se num pesadelo metafísico e desconcertante. Uma obra de arte em cor, vitalidade e fúria.
A violência é operística, resultando num conjunto irrepreensível de sangue, estilo e som. Lembra Kubrick, que dividia seus filmes na experiência sonora e visual.
As cenas de crime são grandiosas, estilizadas e barrocas, transitando entre o horror e o insuportável. Por ser um gênero que permite liberdade e loucura, o terror encontra em Suspiria, a materialização exata visual e pavorosa das chaves essenciais do gênero. Argento vira um amplificador de velhas fórmulas góticas, provando que nenhum filme é um texto que exija linearidade, transformando Suspiria num teste de resistência, uma afronta ao olhar e aos ouvidos que permanece na memória de quem assiste.
Jessica Harper é a infeliz protagonista Suzy Bannion, escolhida pelo diretor por lembrar facialmente a Branca De Neve da Disney. A doce mocinha glorificada com a chance de estudar na melhor academia de dança do mundo, desconfia que algo maligno ocorra por trás das paredes da escola. A câmera, a iluminação e os gemidos, indicam a presença de uma maldade antiga que a tudo e todos observa e tenta controlar. Quando este mal não obtém sucesso, não hesita em eliminar aqueles que cruzam o seu caminho.
E á medida que a história passa e a pressão aumenta, o espectador tão nervoso quanto a protagonista, percebe que o castelo exuberante em cores e formas geométricas, é também um covil de feiticeiros seguidores de Helena Markus, a fodona Matter Suspirarum. Para escapar dos rituais satânicos conduzidos na escola, Suzy se encaminhará para um apocalíptico final, defendido no trailer da época como a única coisa mais assustadora que os noventa minutos iniciais do filme.
O filme seria um giallo tradicional com crimes e sustos, mas com o decorrer da história nota-se que o assassino (ou seriam assassinos?), não é humano, complicando ainda mais a maluquice geral.
Como emissárias do inferno, Argento não poderia encontrar melhor dupla de vilãs defendidas por Alida Valli como a hausfrau nazista virada em sorrisos diabólicos e a veterana musa de Fritz Lang, Joan Bennett, como a elegante diretora da escola e chefona da organização satânica. Udo Kier é o especialista em bruxaria que ajuda a mocinha. Stefania Casini, Barbara Magnolfi, Eva Axén e Susanna Javicoli são as outras alunas que desfilam em figurinos cafonas setentistas. Flavio Bucci é o horrendo Daniel e um jovem Miguel Bosé aparece como a paixãozinha de Suzy.
A trilha sonora do grupo Goblin, construída basicamente de uma nota repetida em vários arranjos, cria tensão á partir da palavra witch, gemidos e sibilos. Argento tocava a música no mais alto dos volumes para colocar o elenco no clima de terror no set.
Quero ver se a coisa vai funcionar tão bem assim num prometido remake para 2010.
Cinema Feito Palavra: Nostalgia/ Carinho/ Sinceridade Cortante/ Bom humor/ Adjetivos Mirabolantes... e alguns palavrões!
segunda-feira, 27 de julho de 2009
domingo, 26 de julho de 2009
Vampirismo De Luxo
FOME DE VIVER
Primeiro filme de Tony Scott como diretor, vindo do mercado publicitário e dos videoclipes. Scott começou sua carreira aqui, graças á Alan Parker, o diretor escolhido pelos produtores para tocar o barco. Parker indicou Scott aos produtores por não se achar capacitado para conduzir a história e disse que Tony tinha um estilo muito bom.
Primeiro filme de Tony Scott como diretor, vindo do mercado publicitário e dos videoclipes. Scott começou sua carreira aqui, graças á Alan Parker, o diretor escolhido pelos produtores para tocar o barco. Parker indicou Scott aos produtores por não se achar capacitado para conduzir a história e disse que Tony tinha um estilo muito bom.
Como o Barry Lyndon ou O Iluminado de Kubrick e até mesmo o Nosferatu de Herzog, esse filme está dividido em duas experiências: ele é visual ou sonoro.
Se você tirar o som e ficar de olhos nas imagens, ou apenas ouvir os sons, sairá ganhando.
É um orgasmo de autor, pesadelo publicitário oitentista, datado, cheio de fumacinhas e música eletrônica. Scott tem uma preocupação tremenda com os cenários, as cortinas e a iluminação. Nada está fora do lugar e cada detalhe tem um efeito tremendo.
Catherine Deneuve vestindo Yves Sain-Laurent, é a belíssima vampira remanescente do Egito antigo. De tempos em tempos ela seleciona um parceiro para amar com a falsa promessa da vida eterna. O roqueiro David Bowie, tão afetado quanto o filme, é o lover do momento que percebe tarde demais o quanto Deneuve é mentirosa, pois ele está envelhecendo, virando uma múmia ambulante num excelente trabalho de maquiagem de Dick Smith, o criador da cara abominável da Regan em O Exorcista.
Ou seja, vida eterna e juventude, eram conversa pra boi dormir. Deneuve é uma predadora e está morta de medo de ficar sozinha com todos aqueles caixões dos antigos parceiros no andar superior de sua mansão. Seu instinto de caçadora e o coração necessitado fazem com que ela saia em busca de uma nova companhia para sorver jugulares nas noitadas ao som de Ballhaus.
Susan Sarandon no auge da sensualidade, é a cientista meio sapata que se encanta com Deneuve e as duas trocarão as melhores carícias lésbicas já vistas no cinema, ao som de Dellibes, perdidas entre esvoaçantes lençóis e cortinas brancas, lambuzadas de leve, com um sangue meio aguadinho que insiste em escorrer cama abaixo.
Fala-se pouco, ninguém morde o pescoço de ninguém. A turma em cena está mais preocupada em perder a carinha bonita. Um padece perante a velhice, outro sofre de solidão, mas tudo com um requinte e uma frescura inebriante. É gente bonita fazendo alarde por causa da beleza. São todos sofredores bem vestidos, transbordam uma elegância sem tamanho que nem dá espaço para o terror. Até os sustos são finos demais.
É um orgasmo de autor, pesadelo publicitário oitentista, datado, cheio de fumacinhas e música eletrônica. Scott tem uma preocupação tremenda com os cenários, as cortinas e a iluminação. Nada está fora do lugar e cada detalhe tem um efeito tremendo.
Catherine Deneuve vestindo Yves Sain-Laurent, é a belíssima vampira remanescente do Egito antigo. De tempos em tempos ela seleciona um parceiro para amar com a falsa promessa da vida eterna. O roqueiro David Bowie, tão afetado quanto o filme, é o lover do momento que percebe tarde demais o quanto Deneuve é mentirosa, pois ele está envelhecendo, virando uma múmia ambulante num excelente trabalho de maquiagem de Dick Smith, o criador da cara abominável da Regan em O Exorcista.
Ou seja, vida eterna e juventude, eram conversa pra boi dormir. Deneuve é uma predadora e está morta de medo de ficar sozinha com todos aqueles caixões dos antigos parceiros no andar superior de sua mansão. Seu instinto de caçadora e o coração necessitado fazem com que ela saia em busca de uma nova companhia para sorver jugulares nas noitadas ao som de Ballhaus.
Susan Sarandon no auge da sensualidade, é a cientista meio sapata que se encanta com Deneuve e as duas trocarão as melhores carícias lésbicas já vistas no cinema, ao som de Dellibes, perdidas entre esvoaçantes lençóis e cortinas brancas, lambuzadas de leve, com um sangue meio aguadinho que insiste em escorrer cama abaixo.
Fala-se pouco, ninguém morde o pescoço de ninguém. A turma em cena está mais preocupada em perder a carinha bonita. Um padece perante a velhice, outro sofre de solidão, mas tudo com um requinte e uma frescura inebriante. É gente bonita fazendo alarde por causa da beleza. São todos sofredores bem vestidos, transbordam uma elegância sem tamanho que nem dá espaço para o terror. Até os sustos são finos demais.
Tenicamente impecável, o filme começa a incomodar na metade. Scott e seus roteiristas, adaptando o romance de Whitley Strieber, não souberam o que fazer com os personagens perdidos em tanta sofisticação, e de um jeitinho sem graça, toda essa festa é apenas para dizer que a vida eterna é um saco.
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