quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Me borrei!


E não poderia existir maior medo que o de Miriam Hopkins prestes a levar um safanão de Bette Davis em Uma Velha Amizade (An Old Acquaintance, 1943)

Ontem...



Dá pra acreditar que a moçoila acima é Jessica Tandy?
E para os acostumados a vê-la sempre idosa nos filmes,
eis a prova de que Jessica arrasou corações não apenas pelo talento descomunal!

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Luxo, poder, glória e... loucuuuuraaa!

DE REPENTE, NO ÚLTIMO VERÃO.

Em 1959, o roteiro de Gore Vidal e Tenessee Williams, polêmicos por natureza, ousou expor homossexualidade, esquizofrenia, lobotomia, canibalismo e incesto, não necessariamente nesta ordem e com muito sofrimento escorrendo tela abaixo.
A censura torceu o nariz, mas no ano seguinte o incômodo foi maior com Stanley Kubrick e Lolita.

Você está achando que é um filme de terror pesadíssimo. E falta pouco para a coisa descer a pirambeira. O gótico impera no estilo Hammer com direito a uma estátua da morte num jardim, uma planta carnívora e a vilania insaciável de damas sulistas.

Animado com o sucesso da peça de Tenessee Williams nos palcos americanos e a gorda bilheteria de Gata Em Teto De Zinco Quente, produção cinematográfica anterior com texto também de Williams, o produtor Sam Spiegel desembolsou uma grana e chamou Elizabeth Taylor, Katherine Hepburn e Montgomery Clift para a linha de frente.

Joseph L. Mankiewicz, o grande diretor de A Malvada, comandou o espetáculo com três indicações ao Oscar. Hepburn e Taylor foram indicadas ao prêmio de Melhor Atriz, coisa inédita para a época. Perderam para Simone Signoret. A direção de arte sinistra também levou uma indicação.

Por mais que o roteiro insinue muita sacanagem, maldade e relações predatórias, a mensagem é clara e o bom entendedor enxerga nos primeiros discursos. Muito do que aparece em cena tem fortes ligações com a vida de Tenessee.
Sua inquieta irmã Rose foi lobotomizada a força pela mãe dominadora e Williams vivia em psiquiatras. Sua prosa é incrível, cheia de simbolismos e lamentos que transitam entre o glamour e o recalque.

Montgomery Clift é o Dr. Cukrowicz, o idiota incapaz de sacar toda a maldade por baixo dos panos, com perguntas irritantes que nos levam a duvidar da inteligência do jovem psiquiatra. Seu personagem está deslocado e vira um joguete nas mãos de duas mulheres ardilosas. Suas interpretações tornaram-se diferentes devido ao acidente que mutilou a sua bela face de galã e o deixou cheio de dores, com a fala travada e as expressões duras por conta do maxilar reconstruído e dependente de drogas para ficar em pé.


Sua presença em cena é mérito único de Elizabeth Taylor, melhor amiga do ator que implorou para que ele não se enterrasse no esquecimento e continuasse trabalhando.

Katherine Hepburn está irretocável como Violet Venable, vilã classuda, bruxa sofisticada e venenosa. Suas entradas majestosas, o gestual, o sotaque e a placidez no tom de voz, escondem um objetivo monstruoso a fim de preservar a memória intocável do idolatrado filho Sebastian, que morreu de repente, no último verão. Ela tem um parafuso a menos por trás do luxo doentio. Seus figurinos deslumbrantes foram desenhados por Norman Hartnell, o costureiro particular da rainha Elizabeth II.

Elizabeth Taylor não deixa barato. Linda e alucinada, sua personagem Catherine, é a suposta louca, com o saco estourando por sua condição imposta pela família e dilacerada por lembranças dos hábitos suspeitos de sua tia e seu primo.

Catherine sabe da verdade. A tia Violet quer silenciá-la comprando uma eficiente lobotomia a cargo de Cukrowicz, para tornar a sobrinha num vegetal dócil e calado, adiantando o modus operandi da enfermeira Mildred Ratched em Um Estranho No Ninho.

Nessas horas, a idiotice disfarçada de curiosidade do bom doutor, ajudam a impulsionar a trama e aumentar o mistério que culmina na verdade acerca do que aconteceu no último verão envolvendo o jovem Sebastian. Verdade horrível e inevitável, o clímax do filme que passa de raspão pelo terror e causa arrepios, com todas as honras.

O elenco de apoio colabora com a fuzarca, pois o resto dos personagens espera lucrar alguma coisa no fim. Mercedes McCambridge, com sotaque caipira e falastrice exacerbada, é a mãe que negocia o cérebro da filha por cem mil dólares.


Albert Dekker é o patrão do psiquiatra de olho nos cheques da Sra. Venable. Gary Raymond é o irmão fascinado pelas roupas do falecido Sebastian e Mavis Villiers faz uma pontinha engraçada como a Srta. Foxhill, a secretária enérgica com voz de taquara.

O filme quase dançou nas mãos dos censores, que permitiram apenas menções ao homossexualismo, sem mostrar nada apelativo. A Liga Católica forçou os produtores e o roteirista Gore Vidal a reformular o roteiro, chegando ao extremo de proibir a voz e o rosto do único personagem homossexual do filme, mas o resultado ainda é impressionante e polêmico.

A tensão no set era outro caso sério, principalmente pela condição de Montgomery Clift, homossexual assumido e vítima da constante discriminação em forma de piadinhas infames do produtor Sam Spiegel.

A geniosa Katherine Hepburn, não deixou barato e vivia aos trancos e barrancos com o produtor, chegando ao extremo de meter um sonoro e inesquecível tabefe na cara de Spiegel no último dia de filmagem

Bette Davis enfrenta Bette Davis

ALGUÉM MORREU EM MEU LUGAR

Bette Davis bem daquele jeito que todo mundo gosta: velha, doida e perigosa. Não falta nada para um orgasmo cinematográfico.


A frase “Ninguém é tão boa quanto Bette Davis quando ela é má!” popularizou-se por conta desse filme. Bette aprovou o roteiro e anos depois disse que esse não é um dos seus melhores filmes, mas um dos mais divertidos em que já trabalhou.

Esta pérola cafona e deliciosa foi realizada dois anos após o estrondoso sucesso de O Que Terá Acontecido a Baby Jane, responsável pela ressurreição da carreira das duas antagonistas de Hollywood, Bette e Joan Crawford, felizes da vida e aplaudidas pela nova geração.


É uma exagerada refilmagem de La Otra, um filme de 1946 estrelado por Dolores Del Rio. Na mesma época, Bette fazia papel de irmãs gêmeas em Uma Vida Roubada. Coisas do acaso.

A mistura de policial noir, grand guignol, melodrama e bom humor rendeu essa peça gótica onde Bette se esbalda. É o filme em que ela mais fuma em cena, fazendo de tudo um pouco consigo mesma.

Chega as vias do delírio quando precisa diferenciar as irmãs, a sofisticada e fútil Margaret De Lorca e a fatigada Edith Phillips. Aos 56 anos, Bette estava de volta ao glamour, mandava prender e soltar em Hollywood, tanto que se rodeou de bons amigos para trabalhar nesse filme. A direção é de Paul Henreid, seu par romântico em A Estranha Passageira. A fotografia é de Ernest Haller, fotógrafo dos filmes em que Bette ganhou seu dois Oscar.

O elenco de apoio está afinado. Karl Malden, o nariz mais simpático de Hollywood é o coadjuvante de luxo, a pessoa certa para encarnar a honestidade em cena como o policial apaixonado pela pobre Edith que faz de tudo para deixá-la feliz.

Peter Lawford, melhor amigo de Sinatra e cafetão dos Kennedy, é o gigolô de Margaret, a irmã rica. Canastrão de amargar, Lawford só está em cena por conta da misericórdia de Bette . Cyrill Delevanti é o fiel mordomo Henry.
Estelle Winwood, a velha mais velha de Hollywood, é o maracujá de gaveta que reza adoidado.

Jean Hagen faz sua última participação nas telas quase reprisando o papel que ela imortalizou em Cantando Na Chuva, a diva maluca de voz esganiçada.

Connie Cezan, a dublê oficial de Bette pode ser vista em duas cenas.

A trilha sonora é obra de André Previn, que não se cansa em dedilhar um sinistro cravo. O maquiador Gene Hibbs foi chamado ás pressas para rejuvenescer Bette, que insistiu em aparentar juventude até na adorável peruca feita sob medida.

Bette está em cena vivendo duas irmãs moralmente grotescas e diferentes. Edith é a pobre coitada que penou por um bom tempo até descobrir certas coisas referentes ao passado da milionária irmã Margareth.

Emputecida por ficar na lanterna esse tempo todo, Edith vai á luta para recuperar aquilo que deveria ser seu numa trama cheia de reviravoltas e rica em mistérios, engrandecida pelo histrionismo de Bette, no auge da crueldade.