Um Sonho Possível
Eu sou uma pessoa teimosa. Noite passada eu quis me torturar. "Vou assistir Um Sonho Possível, ver se essa porra de Oscar tem razão com o prêmio da Sandra Bullock."
Começo a assistir e deu meia hora, pensei: "Qualé! Já vi isso!".
O filme é um primo rico de Preciosa. Aqui, os sonhos de Preciosa viram realidade. Repara comigo: ambos os filmes tratam de pessoas gordas e negras que todos consideram estúpidos, foram abandonados pelas mães e conseguem superar as dificuldades da vida.
A diferença desse aqui é a ausência de fada-madrinha para a gordinha de nome estranho de Preciosa, simples. O drama é batido, previsível em segundos. Até um acidente automobilístico é previsto.
O filme, é um libelo para provar que pessoas lindas, ricas e loiras sabem fazer caridade abaixo de piadinhas racistas de envergonhar quenga de esquina. É para garantir que o Sul dos EUA ainda é um lugar atrasado cheio de códigos, rapapés sociais e preconceitos. E sobretudo, perpetuar a existência desse tipo de filme, popularíssimo entre professores, bacharéis, doutores e donos de boteco que curtem essas teorias de que a vida funciona como em qualquer esporte. O importante é competir.
Momentos bonitos não faltam. Foram concebidos com o cuidado de estar ali, emocionando o povão. Eu mesmo, me emocionei várias vezes com o filme, sem verter lágrimas, porém tocado. A fotografia e a trilha sonora de Carter Burwell também ajudam. Saber que é baseado em fatos reais então, me tira o fôlego.
Nem tudo está perdido. Jae Head como o pequeno mercenário SJ, é a melhor coisa do filme. Um garoto espontâneo misto de empresário, gigolô e cafetão. Kim Dickens é a belíssima Sra. Boswell, que acredita no herói. O protagonista Quinton Aron também é um poço de simpatia, sério. Kathy Bates é a Madame Sousatzka da vez.
A moça que levou o Oscar, Sandra Bullock, não decepciona jamais. Com o excesso de plásticas e os movimentos faciais ainda mais bloqueados, Sandra está errada em todos os níveis, parece uma caricatura de Dolly Parton, sem as tetas e a cara de anjo. Falseando sotaque e forçando a cara de drama (ou seria constipação?), é uma piada sem fim. Nos anos 80, teria arrasado corações com tanta canastrice junto ao pessoal do Dallas. Como num pesadelo, visito o IMDB e descubro que Julia Roberts era a primeira escolha para o papel da loira perua caridosa. Obrigado Jesus. Dois Oscar para Julia seria demais para il mio cuore.
Claro, eu entendi o pito desmoralizador: Temos sempre que proteger o lado cego de quem amamos de verdade.
Lindão, né?
Me emociono...
Um comentário:
Coincidência das coincidências, assisti ontem também!E me lembrou bem o que poderia ser o lado A de Preciosa. Pior cena: aquela do chá c/ as amigas, onde elas a reprimem por adotar um negro. fake, fake, fake até o fim! Entretanto,assistível!
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