domingo, 17 de janeiro de 2010

Down Down Down no High Society

MRS. HARRIS

Se a intenção do filme era humanizar Jean Harris,

a ilustre madame que nos anos 80 matou o Dr. Tarnower, a tarefa finda-se com amargor romântico na visão feminista e sensível de um notório crime.

Quase um documentário com os atores dando depoimentos interpretando os verdadeiros personagens da tragédia. Lembra O Reverso da Fortuna, meticulosa reconstituição de outra burrada da alta sociedade americana, o caso Von Büllow. É espantoso o quanto os ricos americanos adoram se matar, promover tragédia. Pobre se mata todo dia e nem por isso vira sensação.


Jean era uma dama que pendia entre a sofisticação e a arrogância. Nos anos 60, ela conheceu Herman Tarnower, o mulherengo esquisito que inventou a famosa dieta de Scarsdale.

Os dois partilharam por 14 anos de um amor frio embalado pela paixão inexorável de Jean diante da indiferença de Tarnower com o sexo esquisito e meticuloso num relacionamento depressivo e psicótico, onde a mulher que precisava de segurança esperou demais do homem que era apenas um velho rico bem-dotado que adorava contabilizar suas conquistas. Não há cabeça, pessoa ou mulher que resista a tamanha maldade e se ela passou fogo nele, parecia estar com a razão.

Anette Bening confere glamour, charme e dor em sua interpretação de Jean, carrega o filme com toda a sua neurose. Ben Kingsley é um cara esquisito, meio porcalhão e escandaloso que se encaixa perfeitamente no papel de Tarnower, um homem que gostava de conversar enquanto a amante lhe masturbava.

Cloris Leachman está impagável como a cunhada jararaca. Chloë Sevigny é a amante ridiculamente submissa que chega ao extremo de pintar os móveis da casa de Tarnower, apenas por amor. Ellen Burstyn, que já interpretou Jean Harris em outro telefilme, aparece numa pontinha misteriosamente indicada ao Emmy, como uma ex-amante de Tarnower.

No fim das contas, muita coisa ficou no ar e disseram que Jean foi para a casa de Tarnower querendo se matar. Durante uma briga para desarmá-la, a arma disparou acidentalmente e Tarnower foi para o beleléu. 12 anos de cadeia para Jean, com direito a absolvição, o sucesso e trabalhos filantrópicos em prol das presidiárias de Bedford Arms.

Produção televisiva, coisa de luxo da HBO dirigido por Phyllis Nagy partindo do livro de Shana Alexander e com direito a damas fatais do cinema na abertura ao som de Put The Blame on Mame.

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