segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Amor e Tentação / Inferno e Danação

A NOITE DO IGUANA

Como todo bom texto de Tenesee Williams, este filme é carregado de personagens peculiares, tensão sexual e diálogos ferinos.

A direção corajosa é do grande John Huston, trabalhando no México que ele tanto amava e com um orçamento altíssimo apenas para pagar o salário dos astros. Huston, disposto a criar tensão entre o elenco isolado, presenteou cada ator com uma pequena pistola banhada á ouro carregada de balas com o resto dos nomes do elenco. Ou seja, se a coisa esquentasse e alguém perdesse a paciência de verdade durante as gravações, todos tinham carta branca para matar um ao outro com direito á bala personalizada.

O caldeirão ferve intensamente no hotel Miss Malay na costa do México, lugar escolhido por um ex-padre, uma decadente viúva, uma pintora fracassada, uma ninfeta fogosa e sua protetora, todos em busca de alívio para seus demônios interiores num clima sórdido, triste e por vezes cômico de lavação de roupa suja ou intensa terapia defendido com classe pelo roteiro teatral do próprio Williams, com a ajuda de Huston e Anthony Veiller.

O elenco é de um magnetismo estupendo. Richard Burton com toda a malícia do seu sotaque inglês, é o protagonista andando no fio da navalha e tentado por três mulheres,
cada uma com um desejo específico nada agradável para a sua pessoa. E para um sacerdote perdido entre as convicções religiosas e o desejo carnal, Burton encontra-se em papos de aranha, mal arranjado entre tantos arquétipos femininos, afastando-se cada vez mais da realidade e mergulhando num abismo pavoroso de danação.

As três musas que infernizam o coração e a fé de Burton, não poderiam encontrar melhores intérpretes. Ava Gardner é a saidinha dona do hotel, a viúva conformada e conivente com todos os caprichos e trambiques de Burton, pois esboça desde o início a vontade de tornar-se a esposa do reverendo e ser amada com toda intensidade. Deborah Kerr tem ares de anjo da guarda no papel de uma feérica pintora sem um pinto pra dar água, sempre com a sabedoria na ponta da língua para expiar os pecados da galera. Sue Lyon, dois anos após o sucesso de Lolita, repete o papel da ninfeta caliente pronta para se ajoelhar aos pés do sacerdote com a pior das intenções.

O elenco de coadjuvantes também é um caso de admiração e respeito. Cyrl Delevanti entra como o poético avôzinho, perdido entre seus versos de despedida do universo aporrinhante. Mary Boylan é o rascunho do mapa do inferno, a horrenda Beebee.

Roubando na cara dura a maioria das atenções de quem assiste, Grayson Hall é a harpia lésbica pregadora da desgraça. O rosto feroz e os destemperos emocionais garantiram a soberba dama inglesa uma indicação ao Oscar de coadjuvante na época.

Para um filme de 1965, A Noite do Iguana tem coragem de sobra. Se hoje em dia o cinema ainda consegue impressionar o público com temas polêmicos, é de se pensar nos espectadores daquela época diante de uma história sobre devaneios amorosos, insultos de chumbo grosso todos direcionados a sexualidade de cada personagem, porres de rum, cigarrinhos malditos e Ava Gardner aos amassos com dois muchachos na praia.

A trilha sonora melancólica é de Benjamin Frankel e a fotografia de Gabriel Figueroa.
Os figurinos de Dorothy Jeakins foram premiados com o Oscar. Antes da tela grande, o texto de Williams estourou nos palcos da Broadway em 1961, tendo Bette Davis diante do elenco no papel de Maxine, a dona do hotel.

Durante as gravações, o explosivo caso de amor de Richard Burton e Elizabeth Taylor acabou vindo á tona. A atriz não se acanhava de visitar o amante constantemente no set, virando alvo de notícias e fofocas no mundo todo.

O título esquisito menciona uma tradição mexicana: caçar, prender, cevar e devorar a iguana.


Não é preciso explicar onde se encaixa tal metáfora, certo?

Um comentário:

mysteriouskin disse...

Grande filme! E o que é o espanto da Maxine na hora em que o Shannon mija na mala de roupas da Sra. Fellowes?!?!?!?!