quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Fatias De Vida

“Até os meus piores filmes rendem dinheiro e viram clássicos um ano após o lançamento.”

13 de Agosto de 1899, nascia o homem que iria impressionar multidões por longos anos.


Alfred Hitchcock, o mestre do suspense, criador de tramas mirabolantes, cenas inesquecíveis, heróis equivocados e vilões diabólicos.

Sou fã confesso de toda a sua filmografia, até da fase inicial, onde ele era um errôneo diretor de comédias românticas. Me espantei nas madrugadas da vida com Psicose, gravei Os Pássaros em VHS e assistia incansavelmente, hoje já o tenho em DVD.


Perdi a hora da aula e levei esporro da mãe no dia em que passaram Frenesi, mas o assisti com a cumplicidade dos meus avós, claro. Não perdia no canal USA as reprises do seriado Alfred Hitchcock Apresenta, enquanto a madrinha Zélia fazia crochê no sofá ao lado.
Com muito orgulho, no primeiro ano do segundo grau (ainda se fala assim?), apresentei um trabalho numa aula de inglês sobre o homem.

Alfred e eu temos coisas em comum: gostamos de sustos e pavor, mas somos medrosos de marca maior e caímos sempre de amor por loiras gélidas.

Quando começou no cinemão comercial, em 39, David Selznick achava que ele era o cara certo para dirigir Titanic. Brigou tanto com o chefão que conseguiu dirigir Rebeca, A Mulher Inesquecível (Ou Recível - A Mulher Inesquebeca, para alegria da Juliana Dacoregio).

Tinha medo de policiais e de ovos. Teve cinco indicações ao Oscar, sem jamais faturar algum, exceto aquele desgraçado prêmio pelo “Conjunto Da Obra”, conferido aos futuros defuntos. Conseguiu respeito nos EUA quando os europeus disseram que seus filmes eram obras incontestáveis da humanidade.

Dirigiu os maiores astros de todos os tempos: Tallulah Bankhead, Laurence Olivier, Ethel Barrymore, Marlene Dietrich, Charles Laughton, Joan Fontaine, Judith Anderson e Janet Leigh. Nos fez acreditar que James Stewart e Cary Grant eram os homens imaculados. Lançou Anthony Perkins, Barbara Harris, Shirley MacLaine, Karen Black e Jon Finch ao estrelato. Brigou com Doris Day e certamente amou tanto Grace Kelly, que jamais se perdoou ao rodar Ladrão De Casaca em Mônaco.

A imprensa quis saber o motivo dos seus filmes obterem tanto sucesso: “Todo mundo gosta de levar susto.”
Em outra ocasião, não se acanhou em dizer:
“Para mim, Psicose é uma grande comédia!”

Quando a Fox não conseguia dar um jeito em Cleopatra, pensaram em chamá-lo para endireitar o filme. Não, obrigado. Foi proibido por papai Walt Disney de rodar umas cenas na Disneilândia, só porque dirigiu Psicose.

Ao saber que Hitchock gostaria de ter comprado os direitos autorais de Les Diaboliques, os escritores Pierre Boileau e Thomas Narcejac o presentearam com um conto chamado Dentre Les Morts, que virou o cult Um Corpo Que Cai.

Detestava Brian De Palma e temia o sucesso de Dario Argento, seus melhores imitadores. Era amigo de Truffaut e disse que Buñuel era o grande diretor do mundo. Presenteou Mel Brooks quando este brincou com sua filmografia em Alta Ansiedade.

Não faz muito tempo que sua filha Paticia declarou numa entrevista que dois filmes divertiam o seu pai: a comédia Agarra-Me Se Puderes e Benji, aquele do cachorrinho.

Spielberg, Scorsese, Raimi, Carpenter, Tarantino e qualquer outro metido a fazer suspense cheio de clima, devem lhe pagar tributo.

Na lista dos 100 Grandes Filmes da Humanidade, o homem aparece quatro vezes. Dezoito constam naquele livrinho batuta, 1001 FILMES PARA VER ANTES DE MORRER.

Na maior da inocência, acreditava apenas praticar uma arte e sem saber que ao aprofundá-la, produziu leis e criou regras que constituem o abecedário cinematográfico, virando até adjetivo: “É um suspense tão hitchcockiano!”, diz a turma hoje em dia, alguns sem saber a essência da coisa.

No fim da vida, Hitch com a saúde complicada, teve que usar um marcapasso. Sempre que recebia uma visita, fazia questão de mostrar o aparato com orgulho e dizia com a voz pausada fixando os olhos no interlocutor, que a engenhoca deveria fucionar por dez anos, mas poderia parar a qualquer minuto.


É ou não é o pai do suspense?

3 comentários:

mysteriouskin disse...

Nossa, ele era fã de Agarra-me Se Puderes!?!?!? Jamais poderia imaginar isso, coincidentemente, comprei esse filme no Sebo Ávila esse ano.

Bibi. disse...

Eu tenho ele na parede aqui de casa...arrasei!

:D

Harmonia Circular disse...

Ai, ele gostava do Benji? Zero pra ele, ainda se fosse a Lassie...