sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Bette Davis enfrenta Bette Davis

ALGUÉM MORREU EM MEU LUGAR

Bette Davis bem daquele jeito que todo mundo gosta: velha, doida e perigosa. Não falta nada para um orgasmo cinematográfico.


A frase “Ninguém é tão boa quanto Bette Davis quando ela é má!” popularizou-se por conta desse filme. Bette aprovou o roteiro e anos depois disse que esse não é um dos seus melhores filmes, mas um dos mais divertidos em que já trabalhou.

Esta pérola cafona e deliciosa foi realizada dois anos após o estrondoso sucesso de O Que Terá Acontecido a Baby Jane, responsável pela ressurreição da carreira das duas antagonistas de Hollywood, Bette e Joan Crawford, felizes da vida e aplaudidas pela nova geração.


É uma exagerada refilmagem de La Otra, um filme de 1946 estrelado por Dolores Del Rio. Na mesma época, Bette fazia papel de irmãs gêmeas em Uma Vida Roubada. Coisas do acaso.

A mistura de policial noir, grand guignol, melodrama e bom humor rendeu essa peça gótica onde Bette se esbalda. É o filme em que ela mais fuma em cena, fazendo de tudo um pouco consigo mesma.

Chega as vias do delírio quando precisa diferenciar as irmãs, a sofisticada e fútil Margaret De Lorca e a fatigada Edith Phillips. Aos 56 anos, Bette estava de volta ao glamour, mandava prender e soltar em Hollywood, tanto que se rodeou de bons amigos para trabalhar nesse filme. A direção é de Paul Henreid, seu par romântico em A Estranha Passageira. A fotografia é de Ernest Haller, fotógrafo dos filmes em que Bette ganhou seu dois Oscar.

O elenco de apoio está afinado. Karl Malden, o nariz mais simpático de Hollywood é o coadjuvante de luxo, a pessoa certa para encarnar a honestidade em cena como o policial apaixonado pela pobre Edith que faz de tudo para deixá-la feliz.

Peter Lawford, melhor amigo de Sinatra e cafetão dos Kennedy, é o gigolô de Margaret, a irmã rica. Canastrão de amargar, Lawford só está em cena por conta da misericórdia de Bette . Cyrill Delevanti é o fiel mordomo Henry.
Estelle Winwood, a velha mais velha de Hollywood, é o maracujá de gaveta que reza adoidado.

Jean Hagen faz sua última participação nas telas quase reprisando o papel que ela imortalizou em Cantando Na Chuva, a diva maluca de voz esganiçada.

Connie Cezan, a dublê oficial de Bette pode ser vista em duas cenas.

A trilha sonora é obra de André Previn, que não se cansa em dedilhar um sinistro cravo. O maquiador Gene Hibbs foi chamado ás pressas para rejuvenescer Bette, que insistiu em aparentar juventude até na adorável peruca feita sob medida.

Bette está em cena vivendo duas irmãs moralmente grotescas e diferentes. Edith é a pobre coitada que penou por um bom tempo até descobrir certas coisas referentes ao passado da milionária irmã Margareth.

Emputecida por ficar na lanterna esse tempo todo, Edith vai á luta para recuperar aquilo que deveria ser seu numa trama cheia de reviravoltas e rica em mistérios, engrandecida pelo histrionismo de Bette, no auge da crueldade.

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