sábado, 30 de outubro de 2010

Reencontros e homenagens

Um Misterioso Assassinato em Manhattan

Depois de explicitar suas intenções sobre o fim do casamento com Mia Farrow em Maridos e Esposas, Woody correu atras do prejuízo moral e foi de reencontro ao seu grande amor do passado, Diane Keaton para este filme. Chamou até Marshall Brickman, outro velho amigo de dias melhores, para roteirizar a peça.

O neurótico e a nervosa, agora casados e vinte anos depois, continuam imbatíveis nas mediações de Nova York. Não é A Última Noite de Boris Grushenko e nem O Dorminhoco, mas o pas de deux humorístico entre Woody e Diane funciona muito bem. Diane é a mulher presa ao cotidiano que acredita ter acontecido um assassinato em seu prédio. Com a adrenalina saindo pelas orelhas, ela envolve o marido medroso e inseguro, personagem tradicional de Woody que meio mundo acredita ser igual fora das telas, numa trama mirabolante onde os dois provocam risos e soltam risadas descaradamente um para o outro.  

No picadeiro armado de palhaçadas e lembranças, o texto afirma que existe (ou existiu) vida inteligente no cinema comercial, com piadas sutis e malabarismos que cortejam a criatividade de um autor. Ele tentou dizer que não seria mais um cineasta pretensioso. Mentira pura.

Existe densidade nos personagens deste filme, mas nenhum deles toca aquela punheta intelectual filosófica retomada em filmes seguintes e tão adorada pela massa cult que não aguentaria um dia sequer em Nova York e vai ao terapeuta só pra fazer farol. 

A única coisa que os cults quase não percebem enquanto procuram a luz no subtexto de seus filmes (coisa que eu também faço de vez em quando) é a capacidade ambígua de Woody em tirar graça ou construir tragédias profundas em cima das banalidades cotidianas,  homenageando boas idéias em toda a sua filmografia. Se você nunca viu Bergman, Fellini, Resnais ou até mesmo um filme expressionista alemão, jamais reconhecerá as fórmulas de Woody, lamento. 

Homenagem por homenagem, este aqui está cheio delas. Hitchcock, Billy Wilder, Roman Polanski e Orson Welles foram alinhavados para criar uma nova fórmula bem delineada e cheia de reviravoltas, sempre na contramão da comédia, para excitar cada vez mais o espectador.

E isso não é a minha balela costumeira sobre clichês. Falta de originalidade é uma coisa. Homenagens para o olho treinado na sétima arte, são outros quinhentos. O olho treinado consegue manter o sorriso malicioso num filme de Tarantino, o cult de boutique não.

Alan Alda é o pé-de-pano louco para dar uns pegas em Diane. Seu oposto feminino é Anjelica Huston, a escritora louca para dar uns pegas em Woody. No fim, Woody e Diane eternamente apaixonados, não se deixam pegar por ninguém. Alan e Anjelica até se pegam, mas ele foge do desafio, alegando não ser jovem o suficiente para aguentar Anjelica em toda sua força e tamanho.

Ron Rifkin e Joy Behar são o casal de amigos, enfeites de cena. Jerry Adler é o suspeito, Lynn Cohen é a defunta que insiste em continuar viva e Melanie Norris é a loira fatal. Com uma vilania contida, Marge Redmond é a cúmplice descartada.

Bobby Short canta lindamente na abertura, enquanto Nova York aparece em plenitude e estado de graça, assim como o diretor deste filme.  

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