sábado, 5 de fevereiro de 2011

Pouca grana e muito susto


HALLOWEEN (1978)

Ontem a noite, presenciei uma acalorada discussão sobre os assassinos do cinema americano, os mascarados famosos que trucidaram meio mundo. Falaram apenas de Sexta-Feira 13 e das peripécias de Jason, algumas até copiadas do cinema europeu. Enquanto a galera fervorosa defendia o Jason, de quem sou grande fã também, falei na surdina que um dos meus filmes favoritos desse gênero, do tipo que não assisto a noite juntamente com O Exorcista, é Halloween, dirigido pelo grande John Carpenter em 1978.

Halloween é uma gema do terror que prova como o minimalismo e a sutileza podem ser enervantes graças a engenhosidade dos realizadores. John Carpenter utiliza duas fórmulas imbatíveis de Alfred Hitchcock: levar o perigo para um lugarzinho aparentemente sossegado e intensificar o suspense sem mostrar a bomba explodindo, filmando apenas a caixa com o tic-tac.

É o primeiro filme americano com um assassino mascarado, criador das regras básicas que perduraram até os anos 90 com o ilustre Pânico de Wes Craven: não beba, não trepe, não use drogas e nem saia de qualquer recinto dizendo que volta já. Poucos são aqueles que voltaram em filmes de terror.

Michael Myers é o lunático que matou a irmã na noite de Halloween aos seis anos de idade.  Personificado como o mal inevitável além das fronteiras da normalidade, ele tem em seu encalço o Dr. Loomis, que passou oito anos tentando entender a brutalidade do assassino e mais sete anos, mantendo Myers preso. Agora que o bicho papão escapou, todos os esforços tornam-se pífios para salvar a pacata Haddonfield do perigo iminente.

O rol de vítimas é formado por pessoas comuns e atores desconhecidos para a época. Ninguém comete arroubos dramáticos, conferindo ao filme a veracidade cotidiana destruída lentamente por um monstro humano. Em cena, temos um grupo de adolescentes interessados em curtir a vida, beber e fazer sexo como se não houvesse amanhã. Destoando dos amigos marotos encontra-se a virginal Laurie, obediente, estudiosa e talvez por isso, poupada de levar umas boas facadas. Via de regra, os inocentes conseguem escapar de vez em quando.

No elenco o ator mais conhecido era o veterano Donald Pleasence substituindo duas recusas famosas, de Christopher Lee e Peter Cushing para o papel de mocinho envelhecido. Pleasence imortalizou  o incansável Samuel Loomis, o psiquiatra que não acredita mais nas teorias e carrega um trabuco para curar o seu paciente. Todo bom fã da série sabe que o doutor Loomis perseguiu Myers até o sexto filme, já em cadeira de rodas e não foi visto apenas em Halloween III, o único que curiosamente não tem nada a ver com a saga de Myers. O filme também marca a estréia no cinema de Jamie Lee Curtis no papel da mocinha, uma das famosas rainhas do grito.   

Considerado por muitos O Poderoso Chefão dos filmes de terror, Halloween é implacável e assustador  como o serial killer que parece conduzir a câmera deixando o público na tensão de adivinhar o que vai acontecer a qualquer segundo. Esse voyeurismo incomoda, junto com a rapidez silenciosa do carrasco e sua pesada respiração, transformando o filme numa estranha experiência onde cada segundo contribui para o desespero.

Todos os méritos ficam com o roteiro de  John Carpenter e Debra Hill  que transforma o assassino no elemento principal da história, trabalhando a tensão de maneira sufocante. Enquanto o filme desenrola, é impossível manter qualquer sensação de segurança diante da maldade onipresente de Myers, camaleão mimetizado com o escuro apesar da face inexpressiva de pesadelo, uma simples máscara do capitão Kirk de Star Trek pintada de branco e com cortes nos olhos, réplica do rosto de William Shatner. A figuraça por trás da máscara é Tony Moran, um desconhecido dublê.

Halloween foi feito na raça com míseros 325 mil dólares, arrecadando 47 milhões na semana de estréia nos anos 70, transformando a pequena pérola do terror num dos filmes independentes mais lucrativos e inteligentes da história do cinema e por isso, não conseguiu escapar nem da recente onda de refilmagens.

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