quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Os Caminhões de Stephen King


COMBOIO DO TERROR

Em 1986, Stephen King andava meio emputecido com a qualidade das adaptações de suas obras para o cinema e foi a luta, realizar sua própria obra como diretor.

Loucaço de cocaína na época, vício que admitiu publicamente em entrevistas e já abandonou, King alucinado com a possibilidade de sucesso, amargou diante da crítica e tomou aquele fracasso comercial num filme orçado em 10 milhões, que arrecadou apenas 7,5 milhões, para pagar o almoço da galera.

Comboio Do Terror, junto com King Kong de John Guillermin e Duna, de David Lynch, é um dos famosos responsáveis pela falência passageira do saudoso produtor Dino De Laurentiis. Além da falência da família De Laurentiis, já que o filme foi produzido por Martha, a esposa de Dino, King foi processado na época pelo diretor de fotografia Armando Nanuzzi, que perdeu a visão do olho direito num acidente durante as filmagens, tomando mais um prejuízo de 18 milhões de dólares.

King adaptou um dos seus melhores contos para o cinema e provou que como diretor, é um excelente escritor. A trama não é de se jogar fora, mas o tratamento é equivocado, deixando o filme perdido entre dois gêneros, a comédia e o terror.

E por pior que seja a coisa toda, é difícil perder o interesse na trama, graças ao desespero coletivo dos humanos, as babaquices involuntárias e a despirocância tecnológica provocada pela influência de um cometa na órbita terrestre durante oito dias que enlouquece máquinas, carros e o resto do elenco, que não sabe nem o que fazer direito, num roteiro sem muita coerência e com absurdos deliciosos, que não merecem cobranças, já que é uma história sobre máquinas atacando pessoas.

De cara parece um filme feito com muito empenho e seriedade que virou porcaria acidentalmente, um trash concebido sem querer, riquíssimo em detalhes, violência gratuita e litros de sangue, com morte de criança, coisa que incomodou a censura da época. Da mesma forma que sobra o riso, surge a tensão em algumas situações. Desacertos aos montes, efeitos surpreendentes e outros risíveis, tiros de bazuca e personagens desnecessários transitam pela tela.

King acertou em cheio na trilha sonora, por conta dos seus amigos do AC/DC, que entregaram pérolas como Who Made Who, D.T. e Chase The Ace para o filme. Os integrantes da banda estão em cena, numa lancha na abertura e não são vistos de jeito algum. King também aparece no início como o sujeito destratado por um caixa eletrônico.

Para um filme de exageros, os personagens são construídos na medida certa pelo elenco. Emilio Estevez é o anti-herói, Pat Hingle é o chefe FDP e Laura Harrington é a mocinha sem destino. Ellen McElduff é a garçonete malucona, desesperada o filme todo com os acontecimentos, gritando que as máquinas não podem fazer aquilo com os humanos, pois nós os criamos.

Na esteira do riso, sobram John Short e Yeardley Smith, como o casalzinho apaixonado. Yeardley é a vida por trás da voz de Lisa Simpson e vê-la gritando e berrando como a mais equivocada das scream queen, é um prazer. 

Os monstros do filme são enormes caminhões, carrinhos de sorvete, patrolas e betoneiras, todas descontroladas, comunicando-se em código morse por buzinadas e trabalhando em conjunto. Parecem dinossauros que encurralaram um grupo de bestas num posto de gasolina, premissa utilizada por King em várias de suas histórias sobre isolamento e loucura. No meio dos monstros, um deles merece destaque. O caminhão da fábrica Happy Toyz, com a carantonha do Duende Verde na frente, líder do grupo.

'Na época a minha mente estava dominada pela cocaína e muitas vezes eu nem sabia o que estava fazendo. Se pudesse, dirigia o filme de novo, porém sóbrio.' 
Stephen King


Aproveita a onda momentânea de remakes hollywoodianos, Stephen.

Um comentário:

Anônimo disse...

As adaptações de King para o cinema seguem uma lógica: algumas são boas, muitas são ruins.

Infelizmente, pois as obras desse cara são de grudar o traseiro no sofá e ficar lendo até finalizar a história :)