segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Meus amigos, George e Martha



QUEM TEM MEDO DE VIRGINIA WOOLF?

Raro espetáculo do cinema, não é um filme, é um milagre. Deveria ser estudado por qualquer ator iniciante a fim de descobrir o significado verdadeiro das atuações.

Não se consegue escapar da magia que emana da tela causada pelo elenco e pelo texto cortante de Edward Albee, um grande dramaturgo.

A cena em que Elizabeth Taylor come uma coxinha de frango na abertura enquanto discursa sobre um filme de Bette Davis, já virou tema de comunidade no orkut.

Por falar em Taylor, ela e seu marido Richard Burton poucas vezes ousaram trabalhar da forma como aparecem em cena. Eles enchem a cara e brigam por todo o filme, repetindo na tela o que gostavam de fazer na vida real, já que o caso intenso de amor e ódio dos dois é tão conhecido quanto o poder desse filme.

É a primeira direção de Mike Nichols no cinema, que nasceu de quina pra lua, pois começou a carreira em grande estilo, amparado por um quarteto magnífico de atores e a adaptação do texto de Albee feita por Ernest Lehman, um poderoso roteirista de grandes sucessos como Amor Sublime Amor, Intriga Internacional, A Embriaguez do Sucesso e A Noviça Rebelde.

É preciso paciência e nervos de aço para acompanhar o embate na tela, o apocalipse liderado por George e Martha, um casal decrépito e alcoolizado. Sua maior diversão é atacar um ao outro verbalmente, provocar-se mutuamente até os estertores para ver quem será o primeiro a cair. Raramente um derruba o outro, ambos caem juntos e apaixonados. George é um simples professor universitário fatigado e casado com a fútil e brejeira filha do dono da universidade, a escandalosa Martha. Não se sabe há quantos anos eles estão nessa loucura toda, mas uma coisa é certa, eles adoram isso.

Numa das incontáveis farras organizadas pelo pai de Martha entre os funcionários da faculdade, o grosseiro casal fica incumbido de fazer o lado social com Nick, interpretado por um George Segal ainda garotão, o professor recém-chegado.

É a escolha errada de anfitriões. Mas a noite parece não ter fim, e quando um jovem loiro e atlético professor adentrar na casa de George e Martha com sua esposa sem quadris, está armada a confusão. O casalzinho desajeitado são as vítimas perfeitas para o jogo de destruição.

É impossível não se apaixonar pelo clima de fim de festa, cheio de amargor, instaurado pela sublime intensidade do elenco. Toda aquela dor de George e Martha, o medo do jovem professor que sente estar pisando num território perigoso e os pileques memoráveis. Estão todos entediados, parecem gostar de trocar ofensas e cometer aqueles despautérios numa única noite. As esposas parecem aporrinhar os maridos e nem todo mundo fala a mesma linguagem. George e Martha escondem uma dor particular, talvez a promessa de um amor que não foi cumprido, feito de bondade e rancor, a realidade de dois corações cansados que necessitam um do outro para sobreviver.

A violência verbal é cheia de sinceridade e sarcasmo. A vontade de despir-se dos velhos conceitos e disfarces é nítida em George e Martha, que poderiam ser um casal modelo de cultura e refinamento, mas insistem em deixar a civilidade de lado para ensinar uma lição ao jovem casalzinho. Em uma determinada cena, George, completamente aporrinhado e de porre, diz para Nick: “Martha tem 108...anos. Pesa muito mais do que isso.” É o sarcasmo que transita entre a sanidade e a loucura, George e Martha por pouco não arrebentam um a cara do outro. Por pouco.

Todos no elenco e na equipe técnica, sem exceções, dos atores ao diretor de fotografia, foram indicados ao Oscar. Na brincadeira, o filme levou cinco estatuetas. Elizabeth Taylor ganhou o seu segundo Oscar e mais uma cacetada de prêmios de melhor atriz de várias associações de críticos cinematográficos e com razão.

Martha é o seu canto do cisne, a verdadeira megera indomável, uma vilã histórica fomentada com ódio e piedade. Famosa por sua sensualidade, Liz não hesitou em ficar 30 quilos acima do seu peso para dar vida a corpulenta e azucrinante Martha. Sandy Dennis é a esposa caipira do professor galã, premiada como Atriz Coadjuvante já no seu terceiro trabalho no cinema. Os outros prêmios foram para Richard Sylbert pelo cenário, Irene Sharaff pelos figurinos e Haskell Wexler pela fotografia.

Reza a lenda que a peça de Edward Albee foi inspirada no casamento dos boêmios intelectuais Willard Maas e Marie Menken. Willard era professor universitário de literatura e diretor de filmes experimentais underground. Por sinal, era muito amigo de Andy Warhol. Casado com Marie, também diretora de documentários, os dois viveram um casamento tumultuado por conta do ciúme de Willard e da popularidade de Marie. Farristas incansáveis, eram conhecidos por festas eternas e brigas homéricas regadas a altas doses de cana e alguns tapas em drogas.

2 comentários:

Bibi disse...

Adoroooo!!!!!!!!Esse filme é memorável! Aliás, tô com saudades do meu filme...cof cof cof

Georgeeeeeee!!! Seu pantanozinho.

Bibi disse...
Este comentário foi removido pelo autor.