domingo, 23 de janeiro de 2011

Som e fúria, cadê?



VOCÊ VAI CONHECER O HOMEM DOS SEUS SONHOS

É só mais um filme mediano sobre as pegadinhas do destino, que andam ditando as regras na atual filmografia européia de Woody Allen. O som e a fúria de Shakespeare citados na abertura não levam a nada, a coisa toda é sobre idiotice mesmo.

Os personagens da vez, junto com outros dos anos 80, estão aporrinhados com suas vidinhas medíocres. Para preencher o assustador vazio existencial, todos cometem loucuras por estranhos sedutores, em busca de felicidade num roteiro carregado de doces metáforas e ausente daquela intelectualidade de boteco tão gostosa.

Aos quarenta minutos de filme, a idealização de um grande amor já rolou barranco abaixo de mãos dadas com o desejo de uma vida cheia de grandes emoções. As qualidades idolatradas viram fumaça quando a rotina toma conta de todos e os pobres mortais batem o carrinho da felicidade no muro da frustração. Quem depositou esperança, terá que se conformar com o que a vida oferece ou fingir que nada aconteceu e embarcar na primeira ilusão que passa, só para seguir em frente.

Nos desacertos do elenco, Naomi Watts e Antonio Banderas ficam em primeiro lugar. Na lanterna, um certo Anthony Hopkins tenta imitar Woody Allen. Quem enche a tela pra valer é Gemma Jones, que encara a realidade sob o prisma de um doce sonho exotérico. 

Rola um romantismo bonito com Josh Brolin e Freida Pinto, o escritor frustrado metido a espertalhão e sua musa delicada. A sensualidade bombástica é o mérito de Lucy Punch, substituindo Nicole Kidman e detentora da honra de ressuscitar a prostituta burra vivida por Mira Sorvino em Poderosa Afrodite pela enésima vez.

Roger Ashton-Griffiths é o galanteador fã de ocultismo e Celia Imrie aparece por alguns minutos, para declarar posteriormente numa entrevista que aceitou a pontinha insignificante só pelo prazer de trabalhar com uma lenda do quilate de Woody Allen.

Pauline Collins inicia uma sucessão de profecias tragicômicas e juntamente com o narrador, manipula o personagem mais instável da história. O título brasileiro quase empata o desenvolvimento, já que todos em cena conhecem estranhos não apenas do sexo masculino.  

Na hora de assistir, vá com calma. Ou você aproveita o humor negro do diretor e tira sarro da desgraça alheia ou fica entristecido com todos os personagens vitimados por suas próprias esperanças. 

2 comentários:

Imediata disse...

Foda foi assistir àqueles programas tipo making-of onde todo o elenco babava o saco do Woody Allen e ele simplesmente disse: Quando terminei de rodar o filme, pensei "Meu Deus, o que eu acabei de fazer???". Tipo autodepreciação mesmo. Até me desanimou. Mas ainda vou encarar, se pintar por Shark city dia desses. Amei o blog, congrats!

VINNY VALCANAIA disse...

Pois é, o Woody sabe contar a mesma piada há décadas, mas dessa vez, não rolou, sem química.