quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Uma simples continuação e algumas emoções tardias



REC 2

Quem lembra da repórter Angela Vidal, aquela que estava rodando um programa noturno com os bombeiros de Barcelona e entrou de gaiata no olho do furacão, durante uma misteriosa epidemia ocorrida em um prédio velho?

Angela sobreviveu? E o que era a tal epidemia do enervante REC?

Assisto o segundo filme e corro para a internet me deparando com várias críticas negativas sobre esta continuação, algumas até repudiando a solução dos mistérios do primeiro filme. Os detritores interessados em saber qual o problema do padre que morava na cobertura e sua relação com a tal menina Medeiros levantaram-se em paus e pedras, reprisando um fenômeno conhecido: o primeiro filme foi tão superestimado que teve gente esperando a mesma carga de novidade deste segundo.

Sentaram bonito todos os que esperaram aquele caso raro de sequência que supera o filme original, pois REC 2 é uma cartilha explicativa que esclarece os pontos de interrogação do primeiro filme, um simpático e inovador fenômeno cinematográfico que disparou os batimentos cardíacos de meio mundo, inclusive deste que vos escreve.

O cenário é o mesmo, a receita também. Os diretores seguiram a cartilha e realizaram um filme satisfatório com as mesmas fórmulas. Um grupo de resgate entra no prédio em busca de sobreviventes, novamente com uma câmera na mão e tome-lhe chinelo, grito, correrias, sangue, tiro e o bom e velho desespero coletivo, coisa que funciona bem desde os filmes catástrofe de Irwin Allen da década de 70.

No auge do falar mal, ninguém reparou na sutileza das novidades: o aparecimento de dois pontos de vista diferentes da mesma tragédia, um do grupo de resgate e o outro de três adolescentes burros que entram no prédio onde começou a confusão toda.

Aumentaram também o mal onipresente dentro e fora do prédio, gerando aquele clima tremendo de desconfiança onde todos são suspeitos e as aparências, como sempre, enganam todas as possíveis vítimas e os heróis equivocados. A ameaça assume proporções quase épicas em história, por mais que o roteiro demonstre algumas crateras, e em ambientação, sem perder o compasso da tensão.

A resolução do mistério só poderia ocorrer em meio a claustrofobia da escuridão, eterna convidada dos filmes de terror e aqui, pobremente iluminada pela visão noturna de uma câmera, mesma chave do fim do primeiro filme.

Quem merece umas boas ofensas é a distribuidora nacional do filme, que em pleno estado de burrice, denuncia a brincadeira no subtítulo da capa do DVD.

Após escrever sobre esta continuação, mexo nos meus textos antigos sobre cinema e descubro emocionado um entusiasta que me fez assistir REC, o saudoso amigo Felipe, que na época residia em Porto Alegre e me deu um telefonema, cheio de purpurina e êxtase: 'Vinny, eu acabei de assistir REC no cinema aqui e por favooooooooooor, tens que assistir!'.

E lá fui eu, metido a galo, assistir o primeiro filme com o aval do Lipe e a insistência do Edu e do João, que trabalhava comigo. Os rapazes acertaram em cheio e eu dormi uns dois dias com a luz acesa por conta do primeiro filme.

Em breve fico sabendo do Edu se ele gostou da continuação. Para falar com o João que hoje mora em Camboriú, a internet salva.

E para o Lipe, que aos poucos definhou e perdeu a joie de vivre, deixando meio mundo sem telefonemas risonhos, resta uma boa oração e a saudade.

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