terça-feira, 9 de novembro de 2010

Sorrisos malvados


Kick-Ass é um filme divertido e empolgante. De original não tem nada, mas merece aplausos pelo status de gênese de uma nova tendência cinematográfica que vai gerar uns 10, com azar, talvez uns 30 filmes iguais a ele.

Agradável ao extremo, por mais que o quadrinho não esteja adaptado em verso e prosa, fato relevantíssimo que causou a fúria dos fãs extremistas, sua grande piada redundante segura o riso até o final: os fracassados querem vingança, é a vez dos desiludidos conquistarem o seu lugar. Pessoas normais arrombadas pela vida resolvem bancar os paladinos da justiça. Alguns para vingar dores, armados até os dentes e treinados friamente para tal propósito e outros totalmente sem jeito para a coisa, apenas para trazer um pouco de emoção à pasmaceira da vida.

O filme gerou controvérsias moralistas pelo mundo. Motivo: o personagem Hit-Girl, uma menina de 11 anos metendo facadas, tiros e apanhando de brucutus maiores que ela. Não pega bem, vá lá.

A pequenina Chloe Moretz, a Hit-Girl, é uma beleza de atriz mirim, enche o filme de vida e atropela os outros atores com estilo. É uma criança falando palavrão, botando pra quebrar e o nosso lado perverso acha muita graça disso. Nos resta torcer para que a jovem Chloe não padeça da maldição que ronda as crianças de Hollywood, aquela que sumiu com Macaulay Culkin, Abigail Breslin, Haley Joel Osment e recentemente, Dakota Fanning.

Aaron Johnson é um protagonista fácil de se gostar. Christopher Mintz-Plasse continua sua ascensão desde que o mundo babou pelo simpático McLovin de Superbad. Mark Strong é o vilão da vez, friamente perverso e Lyndsy Fonseca, a paixonite enviesada do protagonista, é uma gostosura.

O meu querido Ass-Face Nicolas Cage foi convidado. Enquanto ator, uma tragédia ambulante, cada vez mais famoso por aporrinhar os produtores de roteiros adaptados dos quadrinhos para participar de qualquer coisa. Cage traz o fracasso escrito na testa e o fato contribui para a postura do seu personagem. Para quem não percebeu, o herói Big Daddy tem a mesma entonação de voz do Batman televisivo dos anos 60.

Michael Rispoli é o chefe dos capangas burros do vilão, outro achado em cena. Elizabeth McGovern aparece tristemente para morrer nos primeiros minutos pela segunda vez. No remake de Fúria De Titãs, ela padece da mesma sina. E se alguém aí lembrar dela em Era Uma Vez Na América e Na Época Do Ragtime, ganha um beijo na boca.

Amar loucamente o filme é acariciar uma faca de dois gumes. Se por um lado, ele é moralmente repreensível, de outro ele é fantástico e desgraçadamente cômico. 

A violência, a amoralidade, o sangue e as piadas de salão me agradam muito, quando bem arranjadas em cena.

Sua intenção é divertir com baixaria e consegue com muita eficiência, dominando o humor negro pelas rédeas e usando referências de outros filmes e quadrinhos de heróis. Um ouvido treinado vai reparar acordes que lembram John Williams em Superman e Hans Zimmer em Batman na trilha sonora.

É pra descontrair, por mais que suas piadas envolvendo crianças e armas passem raspando pela garganta. Tem algo de errado aí, mas se o lance é achar graça, eu embarquei no bonde.

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