sábado, 6 de novembro de 2010

A lua e eu



La Luna

Ópera naturalista e féerica de Bernardo Bertolucci sobre o incesto, realizada três anos após o ataque de megalomania que originou 1.900 e sete anos depois do polêmico e amanteigado O Último Tango em Paris.

Ninguém usa manteiga em La Luna, mas o complexo de Édipo é levado ao extremo do desespero. Sem abrir mão da sofisticação, Bertolucci filma tudo com pompa desmedida, roteiro feito em família, com o irmão Giovanni, a cunhada Clare Peploe e retoques de Franco Arcali. A sublime fotografia é de Vittorio Storaro.

Bernardo é um cara porreta, extrai o melhor dos seus atores e castiga Jill Clayburgh em cena, como a diva de ópera arrasada, num momento introspectivo e sombrio, papel marcante de sua carreira. Cansada e fragilizada, viúva da noite pro dia,  parte com o filho adolescente para a Itália e começa o problema, pois o garoto não menos fragilizado pela morte do suposto pai envolve-se com drogas e a mãe, tentando salvar o filho de todas as maneiras, involuntariamente apaixona-se por ele. É a última tentativa de uma mulher em crise para resgatar a sanidade do jovem, ou de ambos, arrasados pela perda da figura masculina em suas vidas.

Os dois confusos entram num devaneio. O garoto com as drogas e a mãe arrasada pela idade acreditam que devem amar um ao outro e sobreviver um do outro, chegando aos finalmentes da purgação e da descoberta mútua de uma paixão incestuosa, entregando-se de corpo e alma.

Cheio de cenas líricas e dolorosas, todas musicadas com árias operísticas, beira o lírico e resbala no desconforto, com os atores pendendo entre o arraso e o desnorteio existencial, viajando no texto enquanto câmera extrai beleza de qualquer coisa em movimento.

La Luna, a lua, é testemunha ocular. Ela está sempre no céu, redonda e brilhosa nos momentos mais cruciais, inclusive na catarse final, a chave do mistério que leva a crer que o incesto é genético.

O elenco de apoio é cheio de presenças fundamentais. Fred Gwynne é o pai que morre no início da história. Alida Valli aparece para duas cenas emocionantes. Peter Eyre é britânico frescalhão apaixonado pela diva. Franco Citti é o gigolô encantando pelo adolescente ao som de Bee Gees. Veronica Lazar é a lésbica mal resolvida, Tomas Millian é o recalcado que carrega todo o segredo da história. Até o palhaço do Roberto Benigni já estava por aqui, fazendo murisquetas como um instalador de cortinas.

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