domingo, 11 de julho de 2010

Aconteceu no Texas

O MASSACRE DA SERRA ELÉTRICA (O original de 74)

Terrorzão rastaquera, feito no quintal de casa, sem a intenção de virar a rola da maioria cult. Traz as mazelas do "dream is over" setentista, quando um passeio agradável vira o inferno na terra, um fim-de-semana com sogra, cachorro e filhos na praia.

Um delíro quente e abafado como o fim do mundo onde se passa a história. Tobe Hooper chamou  um pessoal, que nem Romero e A Noite dos Mortos Vivos, e aconteceu. Pela cara do elenco, todo mundo era chegado num cigarrinho com ciência. Marilyn Burns, bem antes de Jamie Lee Curtis, foi a rainha do grito. Ela alcança decibéis insuportáveis, fato.

É um clássico, não só do gênero terror, mas do cinema. Marcou a época dos filmes cara de pau, feitos no osso do peito. Foi proibido no Brasil e o auê acabou brochando alguns espectadores quando ocorreu a primeira exibição na terrinha.

Ed Gein foi o inspirador da zoeira toda. A introdução falsete de documentário mundo cão, é uma profecia no vozeirão de John Henry Faulk: "A história que verão a seguir... é sobre quatro azarados que dão carona para um doente mental e viram o jantar de uma famíla com hábitos nada saudáveis." 

Começa a perseguição, o choro, o corre-corre e o horror mais puro, em sua forma primária.   

A correção no título é fundamental. A serra funciona á motor. Ninguém vê Leatherface correndo com um fio de extensão nas costas para fazer o bicho roncar.

A perversão instalou-se na casa no fim do campo e de lá nunca saiu. Quatro homens representam o pavor muito bem em cena. Jim Siedow, um ator de formação shakespereana, é o patriarca que acua suas vítimas com uma calma de dar nojo.  Edwin Neal é o arrimo, o retardado da família. John Dugan é o mumificado vovô, sentado o dia todo tarando o esqueleto da vovó.

A honra maior é de Gunnar Hansen, o trator da família. Grande, desajeitado e redondamente débil, ele caça as iguarias para o jantar. O apetite canibalesco fala mais alto que o cérebro (aliás, cadê?) e ele executa suas vítimas de tudo que é jeito: marretadas, ganchos e claro, a serra. Importado da Islândia, hoje é ícone do gore, da nojeira.

Não é um filme para sentir medo. É para cagar nas calças de nervosismo, mais nada. Por mais que se corra, não tem para onde escapar. A serra continua roncando num labirinto seco e árido. Até o gordinho da cadeira de rodas pensa seriamente em levantar e sair correndo, quando encontra Leatherface com aquela carantonha costurada com pele humana. O desespero do elenco dá a impressão de que Tobe Hooper não avisou ninguém sobre o que iria acontecer. Parece Godard, com roteiro escrito a medida que o povo ia morrendo de susto. Alguém sabia que era um filme de terror, mas não esperavam um realismo tremendo.

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