domingo, 11 de julho de 2010

Scorsese, De Niro e o Cabo

CABO DO MEDO

O inseto da megalomania picou Scorsese. Feliz da vida após o sucesso de Os Bons Companheiros, ele pensou "vou refilmar alguma coisa". Com um tesão desmedido, ele escolheu Círculo do Medo, dirigido por J. Lee Thompson em 1962 e foi com tudo.

Em cada fotograma inflado com um clima tétrico e o terror desmedido, podemos ouvir a voz de Martin Scorsese gritando que sim, ele pode fazer melhor. Ele sabe fazer melhor, e o filme deu certo, deixa assim.

Cabo Do Medo é tão magnético que aumenta os batimentos cardíacos. O material é de um exagero sufocante. Começando pelo contra-regra, passando pelo elenco e por culpa do diretor, todos entregam ao filme uma força brilhante, porém desnecessária se lembrarmos que ele é apenas uma refilmagem. É masturbação visual, ataque de egocentrismo que funciona mecanicamente quando tudo está alinhado. A fotografia de Freddie Francis, a montagem de Thelma Schoonmaker, a abertura de Elaine e Saul Bass (cujos nomes nunca mais se viram nos títulos de um filme, peninha) e a música de Bernard Hermman, atualizada com fúria por Elmer Bernstein, tudo para provar que Martin é o filho número 1 do cinema americano.

A trama é sobre a presença do mal na vida de uma família que não anda bem das pernas. Um estranho impiedoso chega para ruir a estrutura bamba da vida de um advogado vivido por Nick Nolte, um poço de pavor. Suando frio e comendo cigarros, com o passado mais confuso que banheiro de boate gay, Nick passa o filme todo quase entortando pregos com o ânus. Jessica Lange é a esposa, madura e sensual. Os dois protagonizam cenas dignas de tragédias gregas.

Robert De Niro, antigo parceiro de Scorsese, é o capeta. Ao sair da cadeia, o apocalipse vai começar. Vestido de Genival Lacerda, De Niro cita a Bíblia e as leis dos homens enquanto reclama por uma curra sofrida na cadeia. Seu personagem transita entre o terror e a chatice, por isso queremos que Nick Nolte quebre a cara dele, pelos dois motivos.

Illeana Douglas e Joe Don Baker são as infelizes vítimas de De Niro, o FDP indestrutível, de assustar Chuck Norris. O elenco do filme de 62 aparece em pontas. Robert Mitchum é o policial sonolento, Gregory Peck contribui com a festinha e Martin Balsam é apenas Martin Balsam.

O porão está cheio de cagaços e a viagem vale a pena, se contarmos o conflito final dos homens regredidos á barbárie, que por pouco não lava a alma de quem assiste. Resta saborear o medo, pois intencionalmente, o filme é de terror.

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