segunda-feira, 26 de julho de 2010

As Mulheres de Fassbinder


LOLA

A minha paixão por Lola é antiga. É um dos primeiros filmes "europeus" que eu assisti na vida, nos idos do VHS. Barbara Sukowa continua arrasando meu coração, assimo como Fassbinder, o diretor da peça e cineasta que eu respeito pra burro, assim como Peckinpah, Kubrick, Fellini, Bergman e companhia. Lola, realizado em 1981, é a segunda parte da trilogia iniciada em 1979 como O Casamento de Maria Braun e finalizada em 82 com O Desespero de Veronika Voss.

Maria, Lola e Veronika são três mulheres diferentes, mas todas viveram na época do pós-guerra, na reconstrução da Alemanha nazista pela mão de Adenauer. E mais importante que isso, todas são divas teutônicas inspiradas nas starletts dos anos 50, dos filmes de Douglas Sirk. Até nisso Fassbinder toma cuidado, homenagear uma época dourada do cinema americano e amargar na crítica social.

O roteiro de Lola é o que melhor representa o período de reconstrução da Alemanha. Até o triângulo amoroso contado aqui gira em torno de negociatas que visam o bem comum.

Barbara Sukowa é Lola, como Marlene Dietrich, e destrói outros corações além do meu. Sua personagem é uma mulher de negócios esperta e calculista, prostituta ambiciosa divivida entre Schukert, um malandro construtor público que superfatura obras e Von Bohn, o novo chefe de departamento que representa o puritanismo. Schukert não quer perder a teta financeira posta em risco com a chegada de Von Bohn e Lola, no meio dos dois, vai dar sua mordida e conseguir a emancipação financeira.

Todos estão dentro de um novo sonho econômico, uma nova Alemanha mais simpática e sem o constrangimento causado pela febre nazista. O povo que perpetra o sofrimento do pós-guerra, faz de tudo para recomeçar, buscando cultura até num puteiro. Os cenários estão sempre em construção, escuta-se o barulho de obras e as paredes estão sempre esburacadas. Até as piranhas do bordel estão preocupadas com investimentos. Os poderosos fazem negociatas em meio a bebedeiras e mulher pelada, deixando claro que se o destino da cidade está em vias de ser resolvido numa casa de rendez-vous, então o serviço público também é uma putaria.

A corrupção e a prostituição caminham de mãos dadas e todo mundo quer o seu 10%.

Tecnicamente Lola é irrepreensível. Fassbinder fazia teatro filmado. Seus atores ensaiavam e a maioria das cenas era feita em tomada única, prova de que ele acreditava no potencial do elenco. A fotografia de Xaver Schwarzenberger marca em cores quentes que beiram a breguice, o perfil dos personagens. Lola tem uma luz rosa, enquanto Von Bohn está sempre em azul.

Barbara Sukowa e Armin Mueller-Stahl brigam seriamente pela atenção em cena.

Mario Adorf é o rotundo Schukert, a melhor coisa do filme. Misto de cafetão e magnata, apaixonado por sua cocota e morrendo de medo de perder a grana. Matthias Fuchs é o vingativo e mal amado Esslin, que joga tudo no ventilador, também na esperança de conseguir o que é seu. Rosel Zech, bem antes de viver Veronika Voss, é a preconceituosa Frau Schukert.

A trilha sonora é de Peer Raben, pra variar. Entre as canções e cenas do filme, duas cantadas por Barbara Sukowa, ficam pra eternidade: a primeira é Am Tag Als Der Regen Kam, no início e pra fechar bonito é The Capri Fisherman, onde Lola, possuída e descoberta, agita o boteco num frenesi de loucura inesquecível.

Nenhum comentário: