terça-feira, 20 de julho de 2010

A vida é um laboratório



A MOSCA

Atualização do clássico filme de 58. Sai Vincent Price, entra o nojo e a pústula.

David Cronenberg toca o espetáculo priorizando o suco gástrico. Ele é o mestre melancólico do horror, o barão do sangue e em toda a sua filmografia existem feridas, físicas ou psicológicas, prontas para estourarem na realidade trágica que acomete seus personagens. Cronenberg adora a carne, os machucados, a podridão e o bizarro. Construiu fama chocando a humanidade com seus closes escatológicos nas mazelas da humanidade.

É a realização do pesadelo de Kafka, a verdadeira metamorfose de homem em inseto, da pior maneira, de dentro pra fora lenta e dolorosamente. Ao desafiar a ciência, um pobre homem desce a ribanceira do desespero tomado por uma doença incurável, pior que a morte.

Jeff Golbdlum é o amalucado cientista Seth, que traz na cara a mesma preocupação de qualquer cientista louca de um filme clássico dos anos 50 ou 60: revolucionar a humanidade, impressionar o mundo e a ciência. Para isso, ele constrói a melhor máquina de todos os tempos, a cápsula de teletransporte e como um bom Dr. Frankenstein da nova era, fará de tudo para assegurar a eficiência de seu novo experimento, inclusive a burrice de testar a máquina por risco próprio.

Ele é um caso raro de boa atuação em filme de terror. Atuando com quilos de maquiagem, Jeff carrega o filme a partir do momento que o monstro interior começa a zumbir mais alto. Adquire habilidades especiais, come açúcar desesperadamente e discursa sobre a mudança da carne e o mergulho no lago de plasma. Pele ruim, manchas no corpo, unhas e dentes que caem atestam que algo está errado e já é tarde para reverter a cagada toda.

Caliphora Vomitoria é a mosquinha que condena a vida de Seth. É o erro de cálculo, o acaso obscuro que coloca o povo em risco. Sua presença insignificante altera o curso da história, seus genes fundem-se com o cientista, que acaba bem fundido.

A transformação do homem não em mosca, e sim em aleijão que abandona as camadas de pele para revelar uma confusão genética, ainda é um parágrafo impressionante na história do cinema. Chris Wallas libera sua criatividade em gosmas que explodem por todo o corpo de Seth. Com razão, papou o Oscar de melhor maquiagem.

Geena Davis é a apaixonadíssima Verônica, que disputa com Goldblum o título do pior penteado em cena. Sua passividade diante do apodrecimento do amado é incômoda, mas ela é apenas uma expectadora, voyeur do horror impossibilitada de resolver tamanho calvário. O melodrama romântico entre os dois quase empaca a história. Fora romance e tome-lhe chinelo na nojeira!

John Getz é o corno enfurecido, que tenta atravancar sem sucesso a relação amorosa e acaba literalmente derretido em sua própria ambição. David Cronenberg, perverso que só ele, aparece em cena como o obstetra, numa cena de grande pavor.

Trilha sonora de Howard Shore, outro que como Bernard Herrmann, sabe musicar o suspense.

Grande sucesso comercial na vida de todos os envolvidos, o filme catapultou Cronenberg ao estrelato hollywoodiano e juntou Jeff e Geena, que foram casados por três anos após as filmagens.

E até hoje, Goldblum é lembrado pela galera como "aquele cara da Mosca, sabe?"

Por mais cômica que pareça a idéia, o dinheiro da produção saiu do bolso de Mel Brooks.

Um comentário:

Anônimo disse...

Muito bom artigo cara! esta ótimo tenho um podcast sobre filmes de terror e encontrei seu blog fazendo uma pesquisa para um Cast.Confere la sera um prazer para nós vlw.

www.sextameianoite.wordpress.com

"Marlon Master"